Hans em Constantinopla
Novela teatral e surreal sobre a história das religiões, centrada em Istambul
Dedicatória
Dedicado ao Meu Irmão, Paulo Jorge Mendes, que ficou sempre acordado.
Prelúdio
Audiolivro teatral cómico improvisado em 2020, quando estava tudo encerrado por causa do golpe de estado de março de 2020. Todas as cenas foram improvisados para o gravador áudio, sem correções, como no teatro de comédia de improviso.
Misturam-se várias épocas passadas diferentes com o presente e com memórias das minhas viagens à Turquia, Terra Santa, Grécia e ex-Jugoslávia.
Novela teatral e surreal sobre a história das religiões, centrada em Istambul (antiga Constantinopla, ou Nova Roma, ou Christanbul, ou Bizâncio), cidade mágica muito apreciada por mim e recorrendo apenas à memória fotográfica e a um gravador de áudio, sem computador nem telemóvel.
Corresponde à visão que eu tinha da história até 2020, a história "oficial". Em 2020 a história "oficial" revelou-se como a "ficção oficial".
O Bósforo é um canal que liga o mediterrâneo ao mar negro, o canal que separa a "Europa" da "Ásia" e que divide Istambul em duas metades. Reza a lenda que Constantinopla foi fundada pelo Imperador Constantino como a nova capital do Império Romano, tendo recebido o seu nome: Cidade de Constantino. Posteriormente após a partição do império romano em império romano do ocidente e império romano do oriente, passou a ser a capital deste último, também conhecido como império bizantino. Este império durou mais mil anos que o império romano do ocidente. A prever a re-escrita da história, "Pois bem, eu sou Santa Helena, mãe do Imperador Constantino e tenho que ir para Jerusalém em peregrinação e para definir os locais santos do Cristianismo.". Lira turca é a moeda que circula na Turquia e no Chipre do Norte. O Patriarcado de Constantinopla é o Vaticano Ortodoxo. Um janízaro é um membro da guarda dos janízaros, que formavam a guarda pessoal dos sultões turcos otomanos. O Doge de Veneza era uma espécie de Rei da República de Veneza eleito pelos nobres. O Imperador Justiniano foi o criador da Hagia Sofia. Iskender Kebap é um prato turco com natas ácidas. Constantino XI "Dragases" Paleólogo foi o último imperador bizantino antes da conquista turca-otomana. Pope é um nome dado aos padres cristãos ortodoxos. A Mesquita Azul de Istambul tem 6 minaretes em vez do máximo permitido pelo Islamismo de 5 minaretes. Solimão, o Magnífico foi o Sultão que reinou no apogeu do Império Otomano, tendo contratado o Grande Arquiteto Sinan para construir várias Mesquitas em Istambul e a Ponte sobre o Drina, na Bósnia. Mustafá Kemal Ataturk foi o Pai dos Turcos que no século XX liquidou o Império Otomano e o Califado Islâmico que lhe estava associado. O Grande Cisma foi a cisão entre a Igreja Católica Latina e a Igreja Ortodoxa Grega. O Imperador Aleixo I Comnemno reinou no Império Romano do Oriente durante a primeira cruzada, ordenada pelo Papa Urbano, após o pedido de ajuda do Imperador Aleixo ao Ocidente para combater os invasores turcos na Ásia Menor. Ana Comnena, filha do Imperador Aleixo, escreveu o livro "A Aleixíada", sobre a vida do Pai. A primeira cruzada coroou o Príncipe Boemundo I de Antioquia, o Conde Raimundo de Trípoli, Godofredo de Bulhão Rei de Jerusalém. O Reino de Jerusalém foi um país criado pela primeira cruzada. O Rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão participou na terceira cruzada, após a reconquista de Jerusalém pelo Sultão Saladino. São Jerónimo traduziu o Novo Testamento de Grego Koiné para Latim (Vulgata Latina) apesar de este ter sido escrito em latim originalmente. São Cirilo criou o alfabeto cirílico para gáudio de todos os falantes de línguas eslavas. O Sultão Selim I foi o primeiro Sultão Otomano que para além de sultão foi também Califa Islâmico Sunita, isto é, o Papa da religião Sunita, após anexar o Egito e Meca. Os ícones culturais do Império Otomano incluem o Café Turco, os Mosaicos Bizantinos, a Delícia turca. As cruzadas deram origem a várias estranhas ordens monásticas militares soberanas, incluindo os Cavaleiros Templários, os Cavaleiros Hospitalários e os Cavaleiros Teutónicos. São Luís, Rei de França, foi o responsável pela enésima cruzada, tendo invadido o Egito. Meteora e o Monte Atos são dois dos locais mais santos da Igreja Ortodoxa Grega. Os sefarditas são um dos ramos do judaísmo constituído por descendentes de portugueses e de berberes marroquinos. E quem fundou o Estado de Israel foram mais os Ashkenazis. O Muro das Lamentações tem esse nome porque é a única parte do Segundo Templo de Salomão que sobrou após a destruição de Jerusalém por parte dos Romanos.
Os senhores, se quiserem ir a pé de Istambul até Jerusalém, podem ir aqui pela Ponte de Gálata e depois pela Ponte Mehmet II, e chegam ali à Ásia Menor e depois é fácil, são só mais uns 3.000 km sempre a direito.
Personagens:
Cena 1
Hans (o meu alter-ego)
Barqueiro
Santa Helena (mãe do Imperador Constantino)
Patriarca de Constantinopla (Papa da Igreja Cristã Ortodoxa)
Cena 2
Monge Ortodoxo Palestino Iconoclasta
Cena 3
Eunuco Negro ( responsável pelo harém )
Imperador Juliano, o Apóstata
500 Janízaros
13 odaliscas
2 vendedores de dourada grelhada
Cena 4 e 5
Enrico Dondolo (Doge de Veneza, provocou a Quarta Cruzada)
Cena 6
Imperador Justiniano
Imperatriz Teodora
Cena 7
Imperador Constantino XI "Dragases" Paleólogo (o último imperador bizantino)
Pope Ortodoxo
Vendedor de dourada grelhada
Cena 8
Imperador Constantino XI "Dragases" Paleólogo (o último imperador bizantino)
Pope Ortodoxo
Vendedor de sandes de tourada
Barqueiro
Cena 9-10
Santa Helena
Imperador Constantino XI "Dragases" Paleólogo (o último imperador bizantino)
Pope Ortodoxo
Cena 11
Sultão Solimão, o Magnífico
Grande Arquiteto Sinan
Cena 12
Sultão Solimão, o Magnífico
Grande Arquiteto Sinan
Mustafá Kemal Ataturk
Cena 13
Calíope,
2 Legados do Papa e a sua comitiva
1 guarda do Imperador Aleixo I Comneno
Cena 14-16
Príncipe Boemundo I de Antioquia
Imperador Aleixo I Comneno
Princesa Ana Comnena, filha de Aleixo I
Conde Raimundo de Trípoli
Godofredo de Bulhão Rei de Jerusalém
Patriarca de Antioquia
Cena 17
Princesa Ana Comnena, filha de Aleixo I
Cena 18
Ricardo Coração de Leão, Rei de Inglaterra
Cena 19.
São Jerónimo
São Cirilo
Cena 20
Sultão Selim I, para além de sultão, também o califa de todos os muçulmanos
Cena 21.
Cardeal responsável pelo departamento artístico do Papa
Cena 22.
5 peregrinos de Florença até à Terra Santa
Cena 23
São Luís, Rei de França
Cena 24-25
Peregrinos à procura dos hospitalários
Empregado que chegou com 7 cafés
Cena 26
Peregrinos à procura dos cavaleiros teutónicos.
Cena 27
11 barbudos ortodoxos gregos
Cena 28
Judeus sefarditas
Bibliografia
Byzantium (I): The Early Centuries, John Julius Norwich
Byzantium (II): The Apogee, John Julius Norwich
Byzantium (III): The Decline And Fall, John Julius Norwich
Café Turco com os ex-Jugoslavos, Paulo Mendes da Silva e Pedro Mendes da Silva, 2015
Teatro
Poética de Aristóteles, Tradução de Eudoro de Sousa, INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2016
Manual Mínimo do Ator, Dario Fo, 2004
Nota sobre a publicação no Substack
Vão ser publicados os 28 capítulos no Podcast em Áudio, que é a versão original, ao longo das próximas semanas. Recorde-se que foram todas improvisados para o gravador áudio, sem correções, como no teatro de improviso.
Mais tarde será publicado um livro com o texto completo em formato de papel e digital. Serão ainda publicadas as versões em Audiolivro M4B, CD e DVD.
Passa, então, a haver um subsecção dentro do Podcast chamada "Audiolivro Hans em Constantinopla".
Cada episódio vai incluir para além do audio original o texto transcrito a partir desse áudio.
Texto do Capítulo 1
Hans acaba de chegar a Constantinopla. Encontra-se junto à porta de Gálata. Ouvem-se gaivotas. Cheiram-se sanduíches de dourada grelhada. E ouvem-se pregões.
-- Bosphorus, Ten Lira ! Bosphorus, Ten Lira ! Bosphorus, Ten Lira !
O barqueiro anuncia rotas marítimas. Entretanto, devagarinho, aproxima-se uma dama de meia idade, vestida com trajes imperiais, e dirige a palavra ao barqueiro:
-- Desculpe, este barco vai para Jerusalém?
-- Jerusalém? Não, este barco vai para o Bósforo.
Virando-se para Hans:
-- E o senhor, sabe para onde vai este barco?
-- Parece que vai para o Bósforo.
-- Os senhores são uns inúteis. Eu preciso ir para Jerusalém. Os senhores sabem quem eu sou?
-- Não - disse o barqueiro.
-- Desculpe, mas também não a conheço - disse Hans.
-- Pois bem, eu sou Santa Helena, mãe do Imperador Constantino. E tenho que ir para Jerusalém em peregrinação e para definir os locais santos do Cristianismo. Os senhores estão aqui a empatar a minha nobre missão. Ora bem, eu rogo ao Senhor Barqueiro que venha comigo a Jerusalém. Ou então...
Respondeu o barqueiro:
-- Bem, minha senhora, assim sendo, acho que este barco já não é para o Bósforo. Partamos imediatamente para Jerusalém, sem mais demoras. Acho que a gasolina ainda chega.
O barco, passado um minuto, afastou-se. Em vez de virar, à esquerda para o Bósforo, virou à direita para o Mar de Mármara, e que depois se dirigiria à Palestina e à Jerusalém.
Hans, por um instante, deixou de ouvir o pregão. Mas este silêncio não durou mais que 5 segundos, pois outro barqueiro rapidamente tomou o lugar do anterior, continuando.
-- Bosphorus, Ten Lira ! Bosphorus, Ten Lira ! Bosphorus, Ten Lira ! Bosphorus, Ten Lira ! Bosphorus, Ten Lira !
Hans, cansado, resolveu entrar na mesquita ali ao lado, intitulada a Nova Mesquita, apesar de já ter sido construída por volta do ano 1600. Lá dentro, descalçou-se, lavou os pés e entrou na zona da oração e começou a rezar uma Ave Maria. De súbito, alguém lhe deu uma palmadinha nas costas e uma piscadela de olho. Era o Patriarca de Constantinopla, disfarçado de muçulmano. Hans não o tendo reconhecido, todavia perguntou-lhe
-- O senhor sabe onde fica o Patriarcado de Constantinopla?
-- Sei sim, senhor, meu jovem. Posso levá-lo até lá, se quiser.
-- Olhe, agradeço-lhe.
-- Vamos?
-- Sim, partamos.
Calçaram os sapatos, atravessaram a grade e os portões que davam para a rua e prosseguiram pela Marginal, para dentro do Corno Dourado, até chegarem a um edifício vetusto, que o Patriarca acenou a Hans, como sendo o Patriarcado.
-- Muito obrigado pela informação. Por acaso, o senhor não conhece o Patriarca de Constantinopla?
-- Por acaso conheço. Sou eu mesmo.
-- Muito gosto.
-- Sabe que a Santa Helena partiu há pouco para Jerusalém, em peregrinação?
-- Sim, sim. Ela tinha-me avisado, sim.
-- Mas acho que ela, quando voltar, vai andar à procura da Igreja dos Doze Apóstolos.
-- Pois é que essa igreja, sabe, já foi demolida há uns 500 anos para dar lugar a uma mesquita no tempo da Queda de Constantinopla. Ela vai ficar um bocadinho desiludida, mas talvez o Senhor possa ir lá reconfortá-la quando ela chegar? O que me diz? - Perguntou o Patriarca a Hans.
-- Muito bem. Mas o senhor sabe quando é que ela chega?
-- Não deve demorar muito. Uma ou duas semanas, também, a Terra Santa vê-se num instante!
Fim do Capítulo 1.
Audiolivro Hans em Constantinopla - Capítulo#1